Lucimar Moreira Bueno(Lucia) - www.lucimarbueno.blogspot.com

terça-feira, 10 de julho de 2012

Dom Anuar: Considerações sobre o censo 2010 sobre religião no Brasil


No último dia 29/06, o IBGE divulgou dados do Censo 2010 sobre a realidade religiosa do Brasil. A grande manchete em toda a mídia foi a da queda do número de católicos e o aumento do número de evangélicos, embora não em igual proporção. Em Maringá, no período entre o Censo de 2000 e 2010, o número de católicos caiu 6% e o número de evangélicos aumentou quase 5%, enquanto que no Paraná, o número de católicos caiu quase 8% e o número de evangélicos aumentou 6,5%; já no Brasil, o número de católicos caiu 9% e o de evangélicos aumentou pouco mais de 8%. 

É sempre importante considerar que as pesquisas são uma boa referência, mas não se pode absolutizá-las, principalmente quando se referem a algo que tem um forte caráter subjetivo, como é o caso da experiência religiosa. Ela não é uma coisa fácil de constatar com precisão.

Da parte Católica, esses dados não surpreendem, já que essa realidade vem sendo percebida ao longo dos anos. A cultura brasileira foi profundamente marcada pelo catolicismo, sendo a Igreja absolutamente majoritária durante muitos anos. Ser católico era algo praticamente “natural”, já que toda a família era católica, a sociedade e a cultura eram católicas. Os católicos no Brasil nunca se preocuparam muito em ser missionários, já que quase todos acabavam sendo batizados no catolicismo. Daí, a preocupação católica era mais com os sacramentos: batismo, crisma, eucaristia, matrimônio. Porém, para uma boa parte das pessoas, isso era algo mais cultural e social do que opcional, de modo que tínhamos, e ainda temos, muitos católicos batizados, mas não evangelizados. São os famosos “católicos não praticantes”.

Embora tenha perdido fieis em termos quantitativos, é cada vez maior o número de fieis qualitativos na Igreja Católica. As pessoas que participam hoje são muito mais conscientes e assumem o ser católico como algo de sua opção e não por imposição sócio-cultural. Isso é muito bom. Queremos ser uma Igreja de pequenas comunidades que se conhecem, que se respeitam e que se amam. Queremos principalmente que a experiência de Cristo leve a pessoa a uma opção fundamental pelo seu Evangelho e que isso a faça participante ativa da Igreja e comprometida com a vida em plenitude em todos os sentidos. 

E é isso o que temos percebido: o crescimento do número de católicos por opção e de fato. Vale lembrar que nos últimos 15 anos, o número de padres no Brasil passou de 16 mil para 22 mil, passando de 1 padre para cada 10 mil habitantes para 1 padre para cada 8 mil habitantes. Isso mostra a vitalidade da Igreja Católica. O número de paróquias criadas também tem crescido significativamente. Com isso, queremos dizer que crescer em qualidade é mais importante que crescer em quantidade.

Em relação aos evangélicos, devemos dizer que é uma satisfação saber que Cristo tem sido conhecido por um número cada vez maior de pessoas. Antes de sermos católicos ou evangélicos, somos cristãos, e isso nos une muito. Devemos, portanto, buscar ainda mais o que nos une. Daí a importância do ecumenismo e do diálogo inter-religioso. 

Embora as pesquisas identifiquem os cristãos não-católicos, a grande maioria pelo menos, num só grupo chamado de evangélico, eles estão inseridos em um número enorme de diversas igrejas. Isso significa que não há uma separação só entre católicos e evangélicos, mas das diversas igrejas evangélicas entre si também. Há que se considerar ainda que as igrejas evangélicas de maior tradição e históricas não têm crescido e que há um trânsito religioso muito grande entre os diversos segmentos evangélicos. Já há também um bom número que se identifica como evangélico não praticante, coisa que antes era “especialidade” só dos católicos.
  
Enfim, é importante que o encontro com Cristo seja verdadeiro e profundo, para que as pessoas de fato experimentem a vida em plenitude. Quem faz essa experiência anseia por viver numa comunidade fraterna, de irmãos(ãs), a Igreja. E assim vivendo, os(as) irmãos(ãs) vão sentir a necessidade de fazer com que a vida plena chegue a todos, transformando a cultura de morte em cultura de vida em toda a sociedade. 


Dom Anuar Battisti é Arcebispo de Maringá