Lucimar Moreira Bueno(Lucia) - www.lucimarbueno.blogspot.com

domingo, 30 de setembro de 2012

O Ano da Fé

O Ano da Fé



Em 11/10/2011 o Vaticano divulgou a Carta Apostólica: Porta Fidei - A porta da Fé, com a qual o Papa Bento XVI proclama o Ano da Fé.

O Ano da Fé iniciará em 11 de outubro de 2012, no 50º aniversário de abertura do Concílio Vaticano II, e terminará em 24 de novembro de 2013, Solenidade de Cristo Rei do Universo. Será um momento de graça e de empenho para toda Igreja para reforçar a nossa fé em Jesus Cristo e anunciá-Lo com alegria a todas as pessoas do nosso tempo.

Em 11 de Outubro de 2012, além dos 50 anos da convocação do Vaticano II, também se completarão 20 anos da publicação do Catecismo da Igreja Católica, texto promulgado pelo Beato Papa João Paulo II. Conforme Bento XVI, este Ano deverá exprimir um esforço generalizado em prol da redescoberta e do estudo dos conteúdos fundamentais da fé, que têm no Catecismo a sua síntese sistemática e orgânica. Por meio do Catecismo à Igreja deve oferecer aos crentes algumas indicações para viver, nos moldes mais eficazes e apropriados, este Ano da Fé ao serviço do crer e do evangelizar. Também será uma ocasião propícia para intensificar o testemunho da caridade. Penso que a maior missão dos cristãos seja de viver o amor. Quando alguém ama a Deus em primeiro lugar será capaz de grandes sacrifícios, renúncias e uma entrega total ao serviço do Reino. O Papa Bento XVI destaca que a natureza íntima da Igreja exprime-se num tríplice dever: anúncio da Palavra de Deus, celebração dos sacramentos e o serviço da caridade. “Para a Igreja, a caridade não é uma espécie de atividade de assistência social que se poderia mesmo deixar a outros, mas pertence à sua natureza, é expressão irrenunciável da sua própria essência”.

Os bispos em Aparecida dizem que a Igreja tem a missão de anunciar o Evangelho do Reino da vida: “De fato, o discípulo sabe que sem Cristo não há luz, não há esperança, não há amor, não há futuro. Essa é a tarefa essencial da evangelização, que inclui a opção preferencial pelos pobres, a promoção humana integral e autêntica libertação cristã”. E ainda: “Diante da exclusão, Jesus defende os direitos dos fracos e a vida digna de todo ser humano. De seu Mestre, o discípulo tem aprendido a lutar contra toda forma de desprezo da vida e da exploração da pessoa humana”.

Sabemos que é o testemunho de vida que dá credibilidade à nossa evangelização, enfim, às exigências para ser um bom cristão passa pelo testemunho de vida, comunhão com Deus, conversão. Não haverá humanidade nova, se não houver em primeiro lugar pessoas novas que firmaram suas vidas na potência divina. “O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres, ou então se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas”, já dizia o Papa Paulo VI.

Neste documento:Porta Fidei, o papa Bento XVI nos diz que atravessar a porta da fé é embrenhar-se num caminho que dura a vida inteira. "Este caminho tem início com o Batismo, pelo qual podemos dirigir-nos a Deus com o nome de Pai, e está concluído com a passagem por meio da morte para a vida eterna" (01). É justamente no caminhar de nossa existência que nos deparamos com grades desafios: individualismo utilitarista e materialista,o fenômeno da globalização e suas consequências, a crise de sentido, a sobrevalorização da subjetividade individual, a exclusão, a exploração do trabalho, o crescimento da violência, a biodiversidade e muitos outros desafios com suas causas e consequências. Por isso o papa enfoca que nos dias atuais, mais do que no passado, a fé vê-se sujeita a uma série de interrogativos, que provêm de uma mentalidade que reduz o âmbito das certezas racionais ao das conquistas científicas e tecnológicas. "Mas a Igreja nunca teve medo de mostrar que não é possível haver qualquer conflito entre fé e ciência autêntica, porque ambas tendem, embora por caminhos diferentes, para a verdade" (12). Para a Igreja “Fé e a Razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para contemplação da verdade”.

Na epistemologia pós-moderna, tudo tem que passar pelo crivo do método filosófico dialético, no qual não existe verdade absoluta. Tudo passa a ser temporal, local e relativo. Para a mentalidade contemporânea, o bem e o mal, o certo e o errado, o permissível e o não permissível, o divino e o diabólico, passam a ser definidos pelos seus resultados. Nesta mentalidade, a fé e a espiritualidade cristã, passam a ser: subjetivas, autônomas e emocionais. Subjetiva porque não mais obedece a princípios da revelação, tornando-se assim uma fé e uma espiritualidade sem referencial e sem um padrão orientador. Autônoma porque cada indivíduo passa a elaborar a sua agenda de fé e conduta sem a interferência de padrões e de princípios pré-estabelecidos.Emocional porque a emoção passa a ser o instrumento de legitimação e de autenticação da fé. De acordo com essalinha de pensamentotodososfundamentosdoutrinários da fécristãterminamperdendo asuavalidade e a suaautoridade.

Se o grande erro do Iluminismo foi remover a Bíblia como base fundamental da fé cristã, e pressionar os teólogos cristãos a buscarem outras bases para a fé com raízes na ciência e na filosofia fenomenológica, agora, o grande erro desta filosofia é fundamentar a espiritualidade cristã na autonomia, na subjetividade e nas emoções.O modernismo religioso pecou em sua tentativa de tornar a fé matemática, racional e científica, e o pós-modernismo está pecando na tentativa de tornar a fé subjetiva, autônoma e emocional.

O papa Bento XVI lembra que Jesus Cristo, em todo o tempo, convoca a Igreja, confiando-lhe o anúncio do Evangelho, com um mandato que é sempre novo.A Igreja não pode ficar a mercê de ideologias tendenciosas e corporativistas. Nem tão pouco de ideias hedonistas, utilitárias e anticristãs, A Igreja não pode ficar a mercê de livres pensadores que agem por conta própria de uma forma irresponsável, nem tão pouco de agências e organizações que são inimigas da cruz de Cristo.

Enfim, quero concluir esta reflexão dizendo que viver bem o Ano da Fé será crer que a Palavra do Senhor avançará e será glorificada. Não adiantaria termos uma inteligência excelente, uma perfeita organização pastoral, empenhar todos nossos esforços e recursos possíveis se não contássemos com a ajuda e a graça de Deus: “Se Deus não construir a nossa casa em vão trabalham os operários” (Sl 126). A Bíblia nos dá essa conscientização e em Aparecida quando se fala de formação dos discípulos missionários a Sagrada Escritura ocupa um lugar de destaque na construção de um mundo melhor possível a favor do ser humano. Já afirmava o Papa Paulo VI: “O homem poderá construir um mundo sem Deus, mas sem Deus construirá contra o próprio homem”. Um mundo melhor possível será sempre obra do próprio Deus que age na vida de seus filhos e filhas.


Maringá, 27 de setembro de 2012.

Pe. Leomar Antonio Montagna


 
BENTO XVI. Carta Encíclica Deus Caritas Est sobre o Amor Cristão. São Paulo: ed. Paulinas, 2006, 25.
DI, 3.
DA, 146. Pode-se, ainda, acrescentar os números: 176, 185, 244, 375, 392, 505, 506, 518 e 532.
DA, 112 apud Bento XVI, Mensagem para a Quaresma, 2007.
“Se não conhecemos a Deus em Cristo e com Cristo, toda a realidade se torna um enigma indecifrável; não há caminho e, não havendo caminho, não há vida nem verdade” (DA, 22 apud DI, 3). Outros parágrafos que podem nos ajudar nessa reflexão: 42, 276, 279, 280, 283, 286 e 330.
PAULO VI. Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi sobre a Evangelização no Mundo Contemporâneo. São Paulo: ed. Paulinas, 1976, 41.
Cf. JOÃO PAULO II, Carta encíclica Fides et Ratio, São Paulo: ed. Paulinas, 1998, saudação.
DA, 246ss.
Populorum Progressio, 42