A reportagem é de Lisandra Paraguassu e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 13-11-2012.
Ao mesmo tempo, boa parte dos entrevistados acha que seu voto tem poder: 67% deles concordam com a afirmação "o meu voto pode melhorar a política brasileira", uma contradição com a possibilidade de aceitar um sistema em que o voto não tem validade nenhuma.
"Esse é um ponto que realmente vai chamar muita atenção. Mas o que vimos na pesquisa não é um desapego à democracia. A maior evidência disso é a importância que os entrevistados dão ao voto", afirma o diretor do Data Popular, Renato Meirelles. "Pode-se dizer que é mais uma cobrança pela ineficiência do Estado do que um saudosismo da ditadura."
Ainda usuária, em sua maioria, do sistema público, especialmente em saúde e educação, boa parte dessa classe média é bastante crítica ao serviço oferecido pelo Estado e começa a cobrar por melhorias no atendimento.
Insatisfação
De acordo com a pesquisa, que foi finalizada na semana passada, 78% da classe média está insatisfeita com a qualidade dos serviços no sistema público de saúde e 60% acham ruins as escolas de ensino fundamental e médio. Apenas o ensino superior não é tão criticado: 42% o acham adequado e 8% acham alta a qualidade.
"Uma coisa é o Estado quando o cidadão não paga imposto. Agora, com pleno emprego, o imposto é retido na fonte e a pessoa passa a ser um consumidor do serviço público, que não é gratuito, é pago. Não é mais um favor, é um direito", analisa Meirelles.
Ao mesmo tempo, esse cidadão da nova classe média não tem dúvidas de que o dever do Estado é oferecer educação e saúde de qualidade: mais de 70% dos entrevistados defendem isso.
A pesquisa, feita dentro do projeto Vozes da Classe Média, ouviu 2 mil pessoas com renda familiar per capita mensal entre R$ 1.540 e R$ 2.813, em 56 cidades brasileiras. Os números, recém-fechados, serão postos à disposição da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República que, hoje, estuda o perfil dessa nova classe média.